Quarto 367 - Carl

Cam caminhava lentamente pelos corredores do hospital, sentindo um calafrio percorrer toda linha de sua coluna e desaguar na altura de seu ventre. Ainda não sabia o que iria falar, não sabia nem se a deixariam falar.Parava no cruzamento do corredor, observando algumas pessoas frente a uma das portas entreabertas. Havia uma senhora aos prantos e um senhor ao seu lado,a abraçando, tentando transmitir força, o mínimo de força que ainda lhe restava. Aqueles deveriam ser os pais..ao menos algo lhe dizia que eram. Cam não estava ali pela mídia, não estava ali pelo processo, sua única intenção era a de tentar confortar os pais ou ao menos permitir que eles vomitassem aquilo que os fazia mal, nem que aquilo significasse ser ofendida ou agredida. O som dos Valentinos ecoavam pelo corredor,anunciando sua chegada. Os olhos azuis, tão sóbrios e aveludados, passavam pela figura da mãe e logo pela do pai, parando na frente de ambos.

- Me desculpem, com licença. Os senhores são os pais do Carl?

Indagava com uma voz doce e baixa, um tanto tímida em sinal de respeito.

- Imagino que seja a última pessoa que os senhores gostariam de ver pela frente. Não posso dizer que compreendo a dor que estão sentindo, pois nunca passei por algo semelhante. Apeneas...apenas..

Os olhos se enchiam de lágrimas com a voz a engasgar pela vontade de chorar. Cam era uma pessoa emotiva e sensível, ela conseguia se colocar no lugar dos pais e aquilo doía muito.

- ...eu apenas posso imaginar como estaria se um dos meus irmãos chegasse em casa como o Carl chegou até vocês. Depois de tê-los visto saindo tão felizes, tão empolgados em ir a um show que tanto queriam e, de repente, me deparar com eles assim...presos em uma maca...feridos e entregues nas mãos de Deus. Ainda não o conheço, mas pelo cuidado que os senhores estão tendo com ele, um cuidado semelhante aos que os meus pais possuem comigo e meus irmãos, eu  não tenho dúvidas do quanto Carl é muito amado e deve ser um garoto de ouro, sorridente e cheio de vida. Uma vida que por pouco não foi retirada de uma forma tão..banal. Eu..Deus, eu acho que morreria!

Se lembrava do dia em que viu Vitto em estado semelhante após uma passagem horrível em sua vidas ao lado de Mel. Se lembrava também do fato de Gigio estar desaparecido e a incerteza de como ele voltaria para casa. Abaixava os olhos, limpando as lágrimas que molhavam sua face. Ela sabia que os pais iriam condená-la por estar chorando na suas frentes, como se fosse mais um numerozinho barato para os impressionar. Ela sabia que as pessoas tinham dificuldade em acreditar na bondade de outras, sabia como era difícil crer na sinceridade, por isso jamais os julgariam caso viessem a se sentir ofendidos. Mas o que ela poderia fazer? Essa era ela, não conseguia ser diferente..

- Sei que nada que eu faça ou fale será capaz de apagar essa lembrança amarga e cruel das suas vidas. Sei que um pedido de desculpas não mudará nada, não trará o Carl de volta para aquele dia, antes de sair da proteção de sua casa, de sua família. Eu sei..eu sei o quanto minha presença está sendo difícil de ser suportada..mas, ainda assim, eu preciso me desculpar..eu preciso dizer a ele e a família dele..que eu sinto muito. Eu sinto muito, mesmo!

Levava ambas mãos na altura dos seios, indicando que falava com seu coração, com sua alma.

- Não posso pedir para que me perdoem...mas peço para que me permitam falar com ele...por favor...eu preciso me desculpar pessoalmente com o Carl, mesmo que ele não possa me ouvir com o corpo, eu sei que me ouvirá com seu coração..por favor...me deixem falar com ele..por favor....

Os pais de Carl observavam a figura loira que entrava no quarto e reconheciam de imediato a cantora culpada pelo estado de seu filho. O pai de Carl ainda tinha a raiva da forma que Enzo tratara seu filho então a receptividade dele não seria das melhores Cam.

- A senhora ponha-se para fora daqui!!! Ja nao basta as ofenças do seu segurança!?!

Mas mães sempre tem o coração mais brando e doce, e segurava o marido. A garota estava ali sendo doce e pedindo por favor.. Ela acalmava o marido para se permitir escutar o que Cameron tinha a dizer. E era com olhos embargados que ouvia tudo que a cantora dizia.

- Meu Carl, sabe.. meu menino.. ele sempre.. sempre foi seu fã. Ele era um menino doce.. diferente dos outros.. jamais ele iria atacar você.. ou machucá-la.. e ser atingido daquela forma.. eu pensei que ia perder meu filho, mas Deus e nossa Senhora não permitiram.. que ele sobrevivesse..

Dizia apesar do olhar mau encarado do pai do garoto, a mãe lhe segurava a mão Cameron. Era uma mulher trabalhadeira, muito mais ligada ao filho do que o pai, ja que Carl era gay.

- Ela está querendo nos emocionar.. o advogado ja tinha nos alertado de que iam tentar algo assim, mas nao vamos tirar o processo!!! Voces vaão pagar pelo que fizeram!!!

E cameron queria ver Carl. O pai meneava a cabeça, mas a mãe.. oras.. talvez.. se Carl pudesse ouvir a voz dela.. talvez..algo mexesse dentro dele e ele acordasse..

- Tudo bem.. mas por favor nao se demore muito.. – ela dizia.. deixando que voce tivesse acesso a UTI cam, para poder falar com Carl.